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terça-feira, 30 de junho de 2015

Cenário. avanço conservador na política brasileira

Política: O País vive os efeitos diretos, e agora concretos, da fragilização de um governo de esquerda somada ao crescimento da bancadas ligadas a segmentos conservadores


O enfraquecimento político de um governo de esquerda, o fortalecimento das igrejas neopentecostais e o crescimento das bancadas religiosa, “da bala” e ruralista no Congresso Nacional são apontados como determinantes do avanço conservador no Brasil. Posicionamentos que, até pouco tempo, limitavam-se ao âmbito do discurso, se transformam em ações, com reflexos possíveis durante anos.  
Na última semana, grupos religiosos travaram uma cruzada contra a permanência das palavras “orientação sexual”, “gênero” e “diversidade” nos planos municipais e estaduais de Educação. No Congresso, propostas que reduzem a maioridade penal, dificultam a adoção de crianças por casais homossexuais, dentre outras, ganham fôlego.

Os prognósticos para o futuro feitos por especialistas ouvidos pelo O POVO apontam cenário de cuidados com a democracia para que não se chegue a extremismos de ódio e intolerância.
Uma onda
Os debates sobre os planos de educação no Brasil são exemplos da articulação de grupos religiosos para fazer valer seus posicionamentos. A eleição de militares, religiosos, ruralistas e outros segmentos mais identificados com o conservadorismo mostra a nova configuração da política brasileira. O atual Congresso é apontado como o mais conservador do período pós-1964. 

A onda de conservadorismo é, na opinião do sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Machado, o resultado de vários fatores. Entre eles, a difícil vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) e seu enfraquecimento político após denúncias de irregularidades no Governo. “A direita se apropriou do discurso do combate à corrupção”, pontua.

Professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Fabrino, não vê aumento do conservadorismo, mas uma crescente polarização. Fabrino destaca uma percepção mais individualizada da política. “É a autoexpressão, um anseio de expor a própria opinião”, frisa.

Para o sociólogo Emanuel Freitas, do Núcleo de Estudos de Religião e Política da Universidade Federal do Ceará (Nerpo-UFC), a polarização e as opiniões conservadoras são vistas com mais força, agora, devido às redes sociais. “Elas permitem que a gente veja que existe racismo, homofobia, ódio e que não somos uma sociedade harmônica”, ressalta.

Para estudiosos, a soma da virada da Igreja Católica com o fomento das igrejas neopentecostais e o resgate de tradições propriedade/família resultou numa realidade que é, ao mesmo tempo, reflexo e motor da onda conservadora em curso no Brasil. “Se a grande maioria é religiosa, é legítimo que essa maioria eleja representantes igualmente religiosos”, diz o filósofo e teólogo Carlos Tursi.

Pós-doutora em Antropologia das Religiões e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Sylvana Brandão, diz que, apesar de se intensificar o debate sobre intolerância, o Brasil ainda é um País onde a convivência religiosa não alcança graus de que “para um existir o outro precisa morrer”. Para ela, o Brasil ainda consolida sua democracia, e o estudo sobre as religiões será fundamental nesse processo.

Frases
“A sociedade é conservadora e foi mais representada nesse Congresso.”

Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara
“Sou contra muita coisa que está em evidência. Há um retrocesso que nunca imaginei”
Fonte Integral: O Povo On Line

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