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sábado, 24 de outubro de 2015

Jogos Indígenas: paresis lutam, mas perdem para favoritas canadenses no futebol


Palmas (TO) - Indígenas de várias etnias se reuniram para acompanhar o jogo entre as mulheres Paresi e o time do Canadá na única arquibancada instalada no campo do 1 Batalhão da PM (Nathália Mendes/Agência Brasil)
Indígenas de várias etnias se reuniram para acompanhar o jogo entre as mulheres Paresi e o time do Canadá, na única arquibancada instalada no campo do 1º Batalhão da Polícia MilitarNathália Mendes/Agência Brasil
De um lado do campo, as jogadoras do povo Paresi Haliti, vindas do Mato Grosso. Quase todas as mulheres que compõem a delegação estavam lá: onze em campo e sete reservas, para a estréia em Palmas, capital do estado do Tocantins.  Apenas três delas não foram ao campo, no jogo de estreia contra as canadenses, favoritas do futebol feminino nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e que jogam até em liga organizada. Apesar da diferença técnica, a derrota brasileira foi de apenas 1 a 0.
As brasileiras não jogam futebol frequentemente. Elas só passaram ter uma rotina de treinos em junho, quando foi confirmada a participação do time feminino no Mundial. O único campo existente na aldeia é de futebol society, com dimensões menores que o gramado oficial. “Não jogamos em campo oficial. Achamos difícil por causa do tamanho”, reconheceu a goleira Valquíria, vencedora de torneios locais no campo reduzido.

Indígenas de várias etnias se reuniram para acompanhar o jogo entre as brasileiras e o time do Canadá, na única arquibancada instalada no campo do 1º Batalhão da Polícia Militar. As atletas paresi usavam uniforme amarelo, com detalhes pretos e chuteiras coloridas.
Do outro lado, com uniformes vermelho e branco – nas cores da bandeira do país –, as jogadoras de três tribos canadenses: Cree, Dene e Dakotas, que fazem parte da nação Saskatchewan, uma das primeiras da Columbia Britânica. Elas jogam juntas desde novembro passado e foram selecionadas durante os torneios dos povos tradicionais, que aconteceram durante o ano.
Nível profissional
Sede da última Copa do Mundo para as mulheres, o Canadá conta com uma liga de futebol indígena. A NIFA, na sigla em inglês, foi criada em 1990 para desenvolver o esporte entre os indígenas em nível profissional. Hoje, são aproximadamente 300 jogadores filiados em várias categorias. As atletas que vieram para Palmas estão na faixa de idade entre 18 e 28 anos.
Desde que o árbitro apitou pela primeira vez nesta quinta-feira (22), no campo do 1º Batalhão da Polícia Militar, as diferenças técnicas e táticas entre os dois times do Grupo 7 logo apareceram. As canadenses mostravam aplicação dentro de seu sistema de jogo, além de mais afinidade com a bola no pé.
As paresis tentavam igualar a partida na base da disposição. Encolhidas em seu campo defensivo, as indígenas brasileiras mal se aproximaram da goleira adversária, que conseguiu passar a partida inteira quase sem ser ameaçada.
Palmas (TO) - Times canadenses trouxeram material esportivo personalizado para a primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas (Nathália Mendes/Agência Brasil)
Time canadense trouxe material esportivo personalizado para a primeira edição dos Jogos Mundiais IndígenasNathália Mendes/Agência Brasil

Fora das quatro linhas, as canadenses tinham o respaldo do técnico, Dano Thorne, e de uma comissão técnica completa. A estrutura das visitantes é semelhante à de times profissionais – elas contam com material esportivo personalizado fornecido por uma grande empresa, bolas para aquecimento e treinamento, kits de hidratação e uniforme completo. As paresis tiveram que trazer sua própria água, em poucas garrafas de plástico, para se refrescarem. A organização não disponibilizou a bebida para as atletas.

Edson Onaizokae fez as vezes de treinador das mulheres paresi – posto dividido com outros familiares. “A gente viu que, na parte do jogo, as canadenses são bem profissionais. As meninas tiveram dificuldade de encará-las e um pouco de medo”, admitiu.
Mesmo com o calor de Palmas – totalmente diferente da temperatura negativa a que estão acostumadas no norte do Canadá –, as canadenses se mostraram mais inteiras até o final, com direito a duas bolas na trave.
E foi justamente nos minutos finais de jogo que saiu o gol da vitória do Canadá. A atacante Brittany arriscou de fora da área e acertou o ângulo de Valquíria, destaque das paresis com defesas importantes. “Sentimos o cansaço. A defesa foi bem, mas faltou entrosamento e ataque. A gente jogou bem, mas não chutou”, lamentou Valquíria ao reconhecer o esforço das colegas em parar um time muito melhor preparado.

Autora do gol do jogo, Brittany não quis ficar com o crédito pelo resultado: “Foi um trabalho de equipe. Elas tinham alguma vantagem por estarem mais adaptadas ao clima do Brasil. Foi muito difícil por conta da mudança drástica de clima, mas acho que nós trabalhamos bem e demos o melhor de nós”.

A equipe paresi haliti entra em campo novamente neste sábado (24), às 7h (horário local), para enfrentarem as indígenas do povo Canela, no estádio Nilton Santos – sede principal do futebol nos Jogos Mundiais. No dia seguinte, no mesmo horário, canadenses e canelas fecham o triangular, também no estádio da cidade.

Vinte e sete times de futebol feminino estão inscritos nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. A primeira fase começou na última quinta-feira (22), com nove partidas. Os primeiros de cada um dos nove grupos vão para a segunda fase, bem como os sete times de melhores campanhas subsequentes aos classificados.
As vencedoras de cada jogo estarão nas quartas de final. A final está inicialmente marcada para o próximo dia 31, às 19h30 (horário de Palmas), no estádio Nilton Santos, mas está sujeita a alterações e pode ser antecipada para a sexta-feira (30).
 
Edição: Jorge Wambur  Nathália Mendes - Enviada especial da EBC

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