Um estudo publicado por uma pesquisadora da Universidade de Bradford, na Inglaterra, causou polêmica ao sugerir que usuários de redes sociais podem desenvolver sintomas de transtorno de estresse pós-traumático pela exposição a vídeos ou imagens violentas ou chocantes.
A pesquisadora, Pam Ramsden, acompanhou a reação de 189 pessoas expostas a uma série de eventos de conteúdo forte. Ela submeteu essas pessoas a questionários clínicos usados para avaliar ocorrência de estresse pós-traumático e descobriu que mais de um quinto delas teve uma pontuação alta - apesar de não terem presenciado os eventos ao vivo.
O estudo não chegou a diagnosticar os participantes e ainda não passou por revisão de colegas da academia, mas Ramsden afirma que o resultado é claro.
"Se uma pessoa com essa pontuação (alta) nos exames de diagnóstico de estresse pós-traumático procurasse um médico, ela seria facilmente diagnosticada com estresse pós-traumático, porque apresenta os mesmos sintomas", disse ela ao BBC Trending.
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O transtorno pode ser desenvolvido por pessoas que enfrentam eventos traumáticos. É normalmente associado a veteranos de guerra, e virou parte do léxico médico a partir dos anos 80 - embora características típicas do transtorno tenham sido identificadas ao longo da história, até na Antiguidade.
Para que uma pessoa seja diagnosticada com a desordem, os sintomas - que incluem flashbacks, evasão, distúrbios de sono e mudanças de humor - devem persistir por mais de um mês após o evento traumático.
Estresse online?
Para um observador leigo, a ideia de um estresse pós-traumático de segunda mão ou indireto pode parece inverossímil. Como alguém que apenas assistiu aos eventos em uma tela pode ter os mesmo problemas que um veterano de guerra?
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O BBC Trending lançou a discussão em um grupo de mensagens online sobre estresse pós-traumático. Alguns participantes ficaram ofendidos com a sugestão de que o transtorno poderia ser causado por vídeos assistidos online.
Mas para Walter Busuttil, da Combat Stress, instituição de caridade voltada para doenças psiquiátricas em veteranos de guerra, o estresse pós-traumático indireto é um fenômeno reconhecido.
"Há um nível de complacência que pode ser muito alto em alguns e muito baixo em outros, e redes sociais podem de fato afetar pessoas particularmente vulneráveis", diz.
"Sempre digo a meus pacientes que não é uma competição. Não dizemos que uma pessoa tem um problema mais grave que outra."
"Esse estudo não está dizendo que as pessoas desenvolvem estresse pós-traumático. Diz que podemos detectar alguns sintomas que são semelhantes aos do estresse pós-traumático."
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O DSM-5, o principal manual de diagnóstico da Associação de Psiquiatria Americana, inclui a classificação de estresse pós-traumático para trabalhadores - como policiais e jornalistas - que podem ser constantemente expostos a vídeos online por causa de seu trabalho.
Grandes organizações jornalísticas - entre elas a BBC - alertam seus jornalistas regularmente sobre os efeitos de assistir repetidamente imagens violentas ou chocantes, e avisam os espectadores sobre conteúdo com imagens fortes.
Mas usuários de internet não têm a mesma proteção. Ramsden fez diversos estudos na área e admite que o novo estudo chegou a descobertas controversas.
Mas ela diz que a proporção dos participantes da pesquisa que sofreram de estresse após ver imagens fortes permaneceu consistente, e destaca que falta às redes sociais o mesmo contexto dado pelas emissoras tradicionais.
"Na TV e até no rádio você recebe um aviso: 'Esta história pode ser chocante.' Não há esse tipo de aviso nas redes sociais", diz. "Agora, tudo está no YouTube, e as coisas que a gente não necessariamente escolheu são vistas milhares de vezes - acidentes de carros, esse tipo de coisas perturbadoras."
"Não há como censurar essas coisas, e eu sou contra a censura. O que estou dizendo é que as pessoas precisam saber que essas imagens podem causar distúrbios ou se somar ao estresse comum da vida", disse.
"Da mesma forma que, se você comer fast food o tempo todo, isso será ruim para sua saúde, se você ver imagens violentas o tempo todo, acredito que pode ter um impacto significativo na nossa saúde mental", completa.
Um fator de risco chave que pode disparar sintomas de estresse pós-traumático é assistir ao conteúdo repetidas vezes. Ou seja, pessoas que esbarram sem querer em conteúdo violento dificilmente desenvolverão problemas a longo prazo. E há terapias muito boas para tratar estresse pós-traumático mesmo muito tempo depois de os eventos traumáticos terem ocorrido, de acordo com Busuttil.
A conclusão, segundo especialistas, é que, se você tem ou acha que pode ter sintomas de estresse pós-traumático, você deve procurar ajuda profissional.
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